Preciso destes
cacos aqui. Tudo o que você precisa é de um documento em branco e de cortes. O
caderno de anotações agora tem capa amarela, o sol se desbotou um pouco mais no
caderno, nos cabelos dela. Ouço gritos ao redor, juro que ouço. Mãe, você não pode
me culpar por não ouvir. O alto do sapato no corredor da empresa. Viro o rosto,
olho. Cancelo o documento novo. Passo a passo.
Hoje compreendi.
Há uma cabeça plantada no jardim. Ao redor são flores. Toca um samba sem parar
naquela sala. Não entro. Trabalho. O caderno agora tem capa amarela, os cabelos
dela. É poeta, articulei. Balança os cabelos, sopra a espuma, é poeta – alguém me
diz. Hoje compreendi. Escrever é assistir à minha própria ausência.
Existe uma
cúmplice dentro de cada poeta. Uma irmã. Preciso deste ruído aqui. Aquelas sombras
ficam onde estão, não mexa. Invoco a multidão de silhuetas. Seu nome é ser
cabeça plantada no jardim. Corpo plantado. Poeta corta árvore com navalha.
Os passos me
espreitam. Interrompo a derrubada. Preciso de violência. Todo texto é casa,
todo corpo é texto. Você é a casa que desaba, eu sou a casa que endureço. Ela é
poeta, não mora. Preciso de violência e de uma ilha, não mexa. Dentre as portas
abertas, a única porta aberta é a porta do texto. Dentre as estradas. Enrolem,
por favor, plástico bolha no texto.
***
Douglas
de Oliveira Tomaz, 23 anos, é autor do blog pessoal www.abrigosdevagabundo.blogspot.com.br,
foi premiado pelo concurso literário do Clube de Escritores de Ipatinga – MG
(Clesi) e possui textos seus publicados pela Revista Jangada e Conhecimento
Prático - Literatura. Em 2015, lançou de modo artesanal seu primeiro livro
de poemas: Escorre. Atualmente, mora
em Belo Horizonte, onde escreve seu primeiro livro de contos.
Ilustração:
Vinícius Ribeiro (http://pensamentoilustrado.tumblr.com/)
Muito bom!
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