Nada
muda a direção de uma faca a abrir-lhe o peito às 6 horas da manhã. É vendo a
mesa, o pão e a xícara que se descobre como se movem as correntes marinhas e os
demais movimentos continuados de uma matéria. Uma onça, sálmica, no cume da
rocha, tentando fugir do fogo que jamais tivera a chance de causar: lá fora as
pessoas tomam o ônibus para ir ao trabalho.
Esse
é, assim parece, o regime do corpo. O corpo, que pode ser a mãe de três filhos
e também o facínora, o corpo cuja pele é o que há de mais profundo, submetido à
retórica do sacolejo. Um umbigo muitas vezes é um poço raso em que, com algum
esforço, se pode afogar.
Em
1854, Auguste Salzmann fotografou os muros de Jerusalém do lado de fora. A
revista Annales Archéologiques, à época, disse que as fotos demonstravam uma
relação sálmica com a cidade sagrada.
Sálmica
é a onça que dorme em pé da Zona Norte à Zona Sul.
***
Cecília Donateli (1989) é capixaba, mineira e carioca em um
corpo só. Graduou-se em Direito. Para compensar esse auto-boicote, escreve poemas.
Vinícius Ribeiro, artista. Começou
a desenhar desde a mais tenra idade e nunca mais parou. Atualmente, estuda
Artes Visuais na Universidade Estadual de Montes Claros. Colabora
periodicamente como ilustrador para O
Salto, além de ser autor do blog pessoal Pensamento Ilustrado http://pensamentoilustrado.tumblr.com/
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