domingo, 7 de maio de 2017

O colapso da torre é o maior dos arcanos maiores



Nada muda a direção de uma faca a abrir-lhe o peito às 6 horas da manhã. É vendo a mesa, o pão e a xícara que se descobre como se movem as correntes marinhas e os demais movimentos continuados de uma matéria. Uma onça, sálmica, no cume da rocha, tentando fugir do fogo que jamais tivera a chance de causar: lá fora as pessoas tomam o ônibus para ir ao trabalho.

Esse é, assim parece, o regime do corpo. O corpo, que pode ser a mãe de três filhos e também o facínora, o corpo cuja pele é o que há de mais profundo, submetido à retórica do sacolejo. Um umbigo muitas vezes é um poço raso em que, com algum esforço, se pode afogar.

Em 1854, Auguste Salzmann fotografou os muros de Jerusalém do lado de fora. A revista Annales Archéologiques, à época, disse que as fotos demonstravam uma relação sálmica com a cidade sagrada.

Sálmica é a onça que dorme em pé da Zona Norte à Zona Sul.


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Cecília Donateli (1989) é capixaba, mineira e carioca em um corpo só. Graduou-se em Direito. Para compensar esse auto-boicote, escreve poemas.


Vinícius Ribeiro, artista. Começou a desenhar desde a mais tenra idade e nunca mais parou. Atualmente, estuda Artes Visuais na Universidade Estadual de Montes Claros. Colabora periodicamente como ilustrador para O Salto, além de ser autor do blog pessoal Pensamento Ilustrado http://pensamentoilustrado.tumblr.com/

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