Por estar à margem do circuito editorial
estabelecido, nos anos 70, pelo menos até 1975 – quando, a partir dali, passou
a ser aceita por grandes editoras como a Brasiliense –, houve em nosso país uma
poesia denominada Poesia Marginal. Tal poesia era escrita e distribuída aos
leitores através do mimeógrafo.
Em certos termos, quase
técnicos, hoje, a Poesia Marginal habita a literatura produzida por escritores
considerados menores, no mais amplo
espectro da palavra. Claro, que o universo marginal literário habitado
apresenta-se, também, em prosa. Os escritores e poetas desta vertente são
ignorados, a tal ponto, pela mídia, que mergulham no status não grato da
marginalidade.
Pode-se perceber tal situação,
de uma forma mais prática, passando um texto de autores como os supracitados a
maus leitores, àqueles que leem muito – existem tantos! – e se for dito a eles
que a condição dos autores é a de insurgentes, e, mesmo que os textos lhes
agradem, esses leitores bocejarão, de forma forçada, após a leitura. O liame
temporal é imenso, mas vou citá-lo: não é keating,
nem Paulo Coelho.
Em outros termos, talvez um
pouco mais diretos, a marginal é a literatura que se ocupa das coisas, da
flora, da fauna racional e irracional, é a que o sistema se esforça em tornar
inexistente, mesmo quando esbarra nos raros momentos em que se vê forçada a
fazer média com a populaça, seu termômetro, sem querer, sem querer. Aí, ai, ai,
ai, aponta o dedo indicador para jornais pingando sangue.
Penso que a tendência marginal
mais recente na literatura brasileira, se é que se pode considerar música como
literatura, apareceu nas letras punks, nos anos 80, quando a violência, o
descaso, a revolta, principalmente a vinda do ABC paulista se recitou, se declamou.
A coisa de denúncia distorcida é o som. O que se acentua, também, no Rap, com
seus rasgos de um protesto mais contundente, com a favela como espaço, muita
ironia. A alma humana se eterniza em sátira.
Incorporo a literatura
marginal nos meus textos, sim. Mais notadamente nos livros Maremoto e Lusco-Fusco,
há neles uma preocupação de minha parte em evidenciar um país corrompido, uma
sociedade corrompida e um poeta sem entrada e sem saída além de lugares comuns,
de ironias sutis demais para negar que qualquer uma das dores que um abjeto
mortal sente é pequena demais para fazê-lo sangrar.
Antes que acabe:
Sou um tanto quanto pateticamente intransigente
com relação a falar sobre literatura, em geral. Sempre que vou tomar umas
cervejas com alguém que escreve, tento levar o assunto para o colo da
literatura. Ultimamente, minhas expectativas têm se frustrado um pouco. Eu me
faço de besta ao não deixar cair a ficha, cair na real de que ninguém vira um
porco a pisotear pérolas se falar de outros temas que não sejam poesia. Gostar
demais de determinado assunto, e sempre procurar dar-lhe ênfase, torna qualquer
um muito chato.
***
Edson
Lopes é poeta, nasceu em Curvelo-MG, mora em Buritizeiro há 16 anos, onde foi
professor de Literatura, quando existiu. Atualmente, é professor de Português e
autor dos livros Alice no país da mesmice
(2000), Historinhas integrais em prosa e
verso (2015), além de ter participado das antologias Combustível, Metal e Poema (2011) e Antalogia Poética (2009).
Nenhum comentário:
Postar um comentário