domingo, 30 de novembro de 2014

David Nascimento

O processo criativo surge da minha distração, sempre estou à procura de situações que me levam a outra dimensão, fazendo produzir com mais intensidade. Distraio-me em simplicidades, e a simplicidade hipnótica do olhar é a principal das minhas distrações. Eu acho que, das coisas que me motivam, a visão aberta e ilimitada é a mais importante. Sou muito questionado quanto à maneira que retrato o olhar em minhas obras. Vai além de uma fissura desde que me entendo por gente, percepção, atenção, cuidado, perspicácia são coisas que as pessoas me cobram com intensidade, e a melhor maneira que encontrei para evoluir nesse sentido, foi a de inserir isso na minha arte. 


Estou em um processo corrosivo de encontro, com tantos recursos, a arte se expande de forma monstruosa. Mas isso vai além do pessoal, abrange algo que todo o mundo deveria ter: a visão completa dos sentidos vista de todos os ângulos, a mostra da realidade no irreal e o abandono dos limites referenciais. 


Minhas duas maiores influências tiveram vidas opostas, mas viveram de forma intensa: uma foi mulher, sofreu e amou com intensidade, teve como única alternativa, a pintura. Pintava sua realidade, a realidade do sofrimento, não se deixou vegetar. O outro se intitulava o próprio surrealismo, teve uma base oposta, uma evolução prematura e transgressora. 


Descobri em mim, a oportunidade de ser sonho e realidade, quebrar essa tênue e acompanhar com suavidade a minha evolução. Lembro-me de que, ainda pirralho, na casa da minha avó, pegava caracóis em tempo de chuva e pintava suas conchas. Eu enxergava mais vida, acho que todos deveriam pintar suas conchas, não se limitar na proteção, fazer dela seu acervo de sonhos.


- David Nascimento, em entrevista concedida ao Salto, 03 de outubro de 2014.

Mais trabalhos do artista aqui. 

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