quarta-feira, 26 de novembro de 2014

De Fernanda para Brenda, de Brenda para Fernanda

Brenda, o verbo sorriso caminha comigo pelos dias. Olho para o mundo e o tom é amarelo. Mesmo melancólica, sorrio alaranjado. Deve ser o signo, ou o meu cabelo. Resolvi manter o cabelo alto: lisa não é a minha textura. Talvez haja texturas aqui dentro. Fui pintada por muitos artistas, minha amiga, inclusive, artistas crianças. Crianças são umas sábias, não são? Ao invés de ver o mundo em um só tom, elas veem arco-íris em toda parte; e isso é sabedoria: saber-se que só se sabe nos plurais.

Fernanda, sua alegria me humilha. Não consigo ser tão feliz assim. Mesmo a minha felicidade sangra. Olho as pessoas na rua: mesmo rodeadas por outras pessoas, ou por compras, ou por crianças, sua expressão física é de dor: as sobrancelhas se juntam em direção ao nariz, e elas suam, e elas desanimam. Suor é lágrima despudorada. Não vejo nenhum prêmio no suor. Tentei academia, mas chorei demais, suada. Tentei olhar o dia, mas o calor do norte de Minas racha. Rachaduras são as veias e artérias do meu peito: ao invés de bater, grito.

Brenda, entendo a sua agonia. Não pense que promovo a ditadura da alegria. Ser alegre e colorida também me aprisiona: somos feitas de fogo e cinza. Perceba, o mundo não se fecha em categorias: somos duplas, contraditórias, isso, de enxergar o mundo quadrado deste jeito, faz parte dessa síndrome de adultice aguda com a qual nos deparamos: crescer dói sobremaneira. Crianças também sofrem. Todo mundo sangra. Mas há cor no vermelho: é preciso enxergar a beleza da contradição das coisas.

Seu discurso me encanta, Fernanda. Qual o significado do seu nome mesmo? Deve ser algo de anjo, ou de muito belo. Você sempre plantou flores por onde esteve, e isso não é culpa sua, nem entendo como ditadura: deve ser coisa de signo, ou de cabelo. A gente escolhe como vai ser até certo limite. Da cerca para lá, acho que é o universo. Meus cabelos são lisos, gosto de me perder pelas madrugadas e de escrever conforme consigo. Escrever também me deixa suada. Mas não desisto: mais uma vez porque sinto, cada vez com maior firmeza, que algo além de mim me governa.

Sinto saudade da nuvem onde você se esconde, Brenda. Você é muito nebulosa. A neblina é sua casa. Mesmo no calor do norte de Minas, você é chuva abafada.

Fernanda, acho que podemos resumir nossa conversa: algo como dia e noite, sol e lua, preto e branco, alegria e tristeza, que não se anulam, mas se complementam. Pois até a nuvem desaba, até a mais escura nuvem, quando cai, faz nascer a planta. E a cor se pinta. 

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