segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Três escritoras, por Brenda K. Souza


Escolher o que se lê parte, antes de tudo, de um reconhecimento. Elenquei aqui três escritoras com as quais me reconheço nas linhas, em suas modificadas formas. Lembro-me da menina que ao descobrir cada uma delas, acabava por se descobrir também. A seu modo, todas escrevem para salvar a si e alguém, e eu leio com essa mesma intenção.

Uma) Clarice Lispector

Louca, hermética, mística, genial, inovadora: adjetivos que perpassaram toda obra escrita de Clarice. De origem pobre, a jovem escritora judia de sotaque engraçado, causa espanto e admiração no cenário da literatura nacional com o lançamento do seu primeiro livro: Perto do coração selvagem. O romance antecederia as principais características das obras subsequentes, a principal delas, o rompimento da lógica cartesiana no romance. Introspectiva para aqueles que não a entenderam, a escritora dá lugar ao pensamento, ao fluxo, escrevendo apenas, como que para salvar a vida de alguém (sem compromissos com o cânone), talvez a dela, como viria a dizer.  Sua escrita é selvagem e convence apenas por ser; suas personagens, assim como sua criadora estão no limiar da descoberta, dos pequenos delitos, das fugas morais, na recriação do mundo e do próprio fazer literário. Em Clarice, biografia e obra se confundem, se misturam, a confissão impregnada nas personagens em terceira pessoa traz em seu cerne um naco grande de carne e essência da escritora, talvez, por isso, ela ficava oca quando terminava de escrever. A palavra para ela é além, é corpórea, matéria vertente, água em fluxo corrente. 

sim, quero a palavra última que também é tão primeira que já se confunde com a parte intangível do real. Ainda tenho medo de afastar da lógica porque caio no instintivo e no direto (...). Que mal porém tem eu me afastar da lógica? Estou lidando com matéria- prima.

Em entrevista ela confirmou minha expectativa ao dizer que para entendê-la era preciso, antes de tudo, sentir, de nada adiantavam as teorias, ela escapava e escapa a qualquer conceituação de gênero. Eu sinto.

Duas) Ana Cristina César

Outra mulher que também causaria reboliço algumas décadas mais tarde, era a carioca Ana C. César. A sua experiência com a escrita começou muito cedo, segundo a mãe, desde pequena, antes mesmo de conhecer os signos escritos, ela ditava e pedia que escrevesse; em suas primeiras publicações há textos produzidos aos 16 anos apenas. Conhecida por ter feito parte da chamada geração mimeógrafo, César teve a maioria de suas publicações desvinculadas de editoras, pois dedicava-se a uma produção artesanal, acessível ao leitor, marginal. Escrita em tom confessional, a poesia de Ana convida a um mergulho na própria identidade, na dela, na nossa. Sua palavra se articula de maneira simples, esvoaçante, descompromissada com regras de sintaxe. A escritora também segue um fluxo, o da confissão, por esse motivo torna-se tênue a linha entre o que é ficção e o que é real; tudo é mentira, tudo tem vias de ser verdade. A intimidade dos textos é atordoante, Ana salta das páginas e mostra ao leitor a janela do texto de onde viria a pular em outubro de 83, escrever é premunir, ler é testemunhar essa poética felina livre, que salta despreocupadamente.

Localizaste o tempo e o espaço no discurso/que não se gatografa impunemente./É ilusório pensar que restam dúvidas/e repetir o pedido imediato./O nome morto vira lápide,/falsa impressão de eternidade./Nem mesmo o cio exterior escapa/à presa discursiva que não sabe. Nem mesmo o gosto frio de cerveja no teu corpo/se localiza solto na grafia./Por mais que se gastem sete vidas/a pressa do discurso recomeça a recontá-las fixamente, sem denúncia/ gatográfica que a salte e cale.

Três) Marjane Satrapi

Ainda buscando relacionar biografia e autora, destaco por último, mas não menos importante, a escritora iraniana Marjane Satrapi. Escrever, criar, é também e sempre um ato político. A escritora e desenhista emerge com uma proposta diferente de contar, de confessar e de estimular atitudes “transgressoras” frente a um regime autoritário e violento. Em seu primeiro livro, Persépolis, escrito e ilustrado através de quadrinhos, a autora relata sobre sua infância até a vida adulta permeada por fatores como política, comportamento, construção de identidade, preconceito e questões que perpassam a vida de qualquer mulher durante seu desenvolvimento. O “universo feminino” tratado no livro vai desde as lembranças das mulheres mais velhas da família a posicionamentos frente à opressão vivida tanto no oriente quanto no ocidente, opressão essa que impõe padrões de comportamento a meninas e mulheres e pune direta ou indiretamente quem não os segue.



quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Maria Vargas e As aventuras de Pira-Poré


Autora de quatro volumes de Aventuras de Pira-Poré, coleção de livros infantis dedicados às descobertas do cerrado e da cultura indígena Kariri, a escritora Maria Vargas conta sobre o seu processo criativo, a importância do incentivo à leitura, as dificuldades para lançar-se escritora e, principalmente, sobre o seu amor e dedicação à literatura infantil. O salto agradece a gentileza da autora em ceder esta entrevista. 


Como e quando surgiram As aventuras de Pira-Poré na sua cabeça?

As aventuras do Pira-Poré são histórias ligadas ao Rio São Francisco e o rio é a inspiração maior presente na minha vida. Sempre quis escrever sobre ele. A ideia sempre foi lançar uma visão mais humana sobre o rio e resgatar a história indígena da nossa cidade. Uma visão que não fosse unilateral como a que conhecemos e aprendemos na escola. Aquela visão dos índios agressivos, “belicosos”, que receberam os bandeirantes com flechas e pedras. Eles eram os primeiros moradores e foram expulsos do lugar que escolheram para morar. Eram pessoas integradas à natureza, que sobreviviam dela e certamente enfrentavam, no seu cotidiano, os problemas e vivências característicos da sua comunidade.

O que te motiva a escrever para esse público tão específico?

Busquei o caminho do rio e o resgate da história indígena, por meio da literatura infantil, porque acredito que as crianças possuem uma percepção mais sensível, um olhar mais sincero sobre o que ocorre à sua volta.
A proposta da “Coleção Aventuras de Pira-Poré” é trazer ao público infantil valores como amizade, sociabilidade, cidadania e consciência ambiental. O objetivo é fazer com que as crianças se identifiquem com o personagem, que gostem do que ele vive no dia a dia, que admirem o comportamento dele e que tomem conhecimento de uma cultura diferente daquela que conhecem. Acho que essa identificação pode trazer um aprendizado de maneira mais lúdica e prazerosa, sem imposições que possam provocar desinteresse pelos temas propostos.

Quais foram os caminhos percorridos para a concretização dessas aventuras? Quais as maiores dificuldades?

A maior dificuldade para se lançar escritor é, com certeza, encontrar uma editora que banque o seu projeto. Para o novo escritor, a procura é longa e cansativa. Mas se você procura  alternativas, pode conseguir concretizar o seu sonho. No meu caso, consegui isso por meio de Leis de Incentivo à Cultura. Essas leis oferecem oportunidades para todos os agentes culturais. Elas abrangem literatura, música, audiovisual, teatro e outras manifestações artísticas. Três exemplares de “As Aventuras de Pira-Poré” foram publicados com o patrocínio da Lei Municipal Ascânio Lopes de Incentivo à Cultura, na cidade de Cataguases, onde resido atualmente. Considero a Lei Ascânio Lopes uma grande iniciativa do município. Todo o setor cultural é beneficiado por ela. Para mim é uma honra ter sido contemplada em três anos consecutivos. Tive a oportunidade de distribuir os livros em 27 escolas públicas municipais e de conversar com as crianças da maioria delas. Isso é muito importante. Todas as edições tiveram tiragem de 2.000 livros. A contrapartida para a Prefeitura de Cataguases é de 20% da obra, ou seja, 400 livros. Eu doo mais 600 livros e faço a entrega direta nas escolas, para que todas possam ser contempladas, sem falha. Existem ainda a Lei Estadual e a Federal (Lei Rouanet), que patrocinam projetos culturais através de incentivo fiscal. Quanto à história dos livros, todas as aventuras infantis e os cenários dessas aventuras são experiências vividas por mim, pelos meus irmãos e irmãs, amigos e amigas e que a maioria dos piraporenses e barranqueiros também vivenciaram na infância. A relação com o rio, com o clima, as árvores, os animais, flores e frutas do cerrado são elementos que até hoje fazem parte da vida das pessoas que moram às margens do rio. Evidente que mesmo com esse conhecimento que tenho sobre as coisas do rio e suas histórias, fiz muita pesquisa e inseri nos textos elementos lúdicos de ficção para aproximar o leitor do universo e da cultura indígenas.




Você escreve texto adulto ou somente literatura infantil? Quais são as peculiaridades do texto para crianças?

Tenho escrito textos infantis, que atraem leitores de todas as idades. Nada impede que em um determinado momento eu também escreva textos exclusivamente para um público adulto ou juvenil. O livro infantil tem características fantásticas: o visual, as ilustrações, cores, o design gráfico. Essa possibilidade de “amarrar” a ilustração ao texto é maravilhosa. Em outros casos, somente a ilustração é o bastante, não há necessidade do texto. A história é visual e está lá para ser desvendada pelo leitor. No caso do Pira-Poré,  tenho uma parceira fantástica, a artista plástica Marina Vargas Tomaz. Sendo também de Pirapora, ela tem o olhar sensível e conhecedor sobre a história contada. Além de sobrinha, Marina é minha afilhada. Temos uma ótima relação e total compreensão sobre os objetivos do projeto Pira-Poré. Estamos sempre em contato sobre a melhor forma de se adequar texto, linguagem e ilustrações. Quanto ao texto, acredito que ele tem que apresentar alguns elementos comuns ao mundo infantil: curiosidade, criatividade, imaginação, ou seja, é preciso enxergar o mundo com o olhar da criança. Além disso, o texto não pode ser cansativo e com frases longas. Elas devem ser mais curtas, com palavras e linguagem simples.

Qual a importância da leitura já na infância? Você era uma criança leitora?

Desde a infância sempre tive um incentivo muito grande à leitura. Os livros estavam à nossa disposição. Minha mãe é uma leitora ávida. Sempre discutia conosco sobre as histórias dos livros. Sobre os escritores. O meu pai também. Acho que fui privilegiada nesse aspecto. O gosto e a admiração pelos livros e pelos escritores é que me fizeram sonhar com a possibilidade de poder também, um dia, aventurar-me na literatura. O incentivo deve acontecer de forma natural, sem imposições. A criança deve sentir prazer com a leitura. Ouço muitas vezes que é preciso ter o “hábito” de leitura. Hábito é, por exemplo, tomar banho todos os dias. Em minha opinião, as crianças e as pessoas de modo geral, precisam encarar a leitura como uma ação prazerosa, não impositiva: “Eu tenho que ler, todo mundo está lendo, eu tenho que ter cultura e conhecimento...” etc e tal.  Isso não funciona. Os pais e a escola, cada um a seu modo, devem incentivar com exemplos. Dessa forma a leitura não será encarada como uma obrigação.

Além de escritora, você também é contadora de histórias. Como tem sido essa experiência?

Contar histórias é o recurso que utilizo para conversar com as crianças sobre literatura infantil e sobre a atividade leitora. Essas atividades exigem, primeiramente, entender que elas têm uma experiência e vivência bem diferentes umas das outras. Existem crianças que não são incentivadas à leitura em casa. Só recebem esse incentivo na escola. Os projetos das escolas que incentivam a leitura são muito importantes (dia da leitura, cantinho da leitura, contação de histórias etc). Nos encontros que realizo com as crianças, meu objetivo é o de promover uma reflexão sobre o papel e a importância da leitura. Incentivar a atividade leitora com ênfase na leitura universal, da leitura que te retira do gueto cultural. Eu acredito na leitura que te permite olhar e conhecer além dos muros que cercam o seu espaço social. Acho também que a mesma ênfase, com uma abrangência muito maior, deve ser direcionada aos mediadores de leitura.


(encontro com alunos das escolas municipais  de Cataguases - MG)


Você pensa em projetos de literatura infanto-juvenil, juvenil ou adulta?

No momento não. Os meus projetos atuais são todos voltados para o público infantil.

Como Pirapora recepciona sua carreira? Há espaço, apoio?

Além do incentivo e apoio da família e dos amigos, a única escola em Pirapora que recepciona o meu trabalho é o Colégio Pirapora. Direção, professores, funcionários, alunos e pais de alunos sempre incentivam as apresentações do Pira-Poré. Todos os anos em que eu e Marina estivemos com eles foi uma festa. Sempre nos  recebem com muito carinho. Em Buritizeiro fui convidada por Ildete Braga, uma amiga querida, e me apresentei na Escola Estadual Prefeito José Maria Pereira. Foi um encontro ótimo com os alunos. Adorei e espero voltar na escola.

(lançamento de Pira-Poré e a chuva no Colégio Cenecista de Pirapora)


Por que você escreve?

Porque gosto de literatura. Gosto de ler, contar histórias, compartilhar conhecimento. Aprender sempre. Tenho ainda tantas perguntas sobre o ato de escrever, tanto a aprimorar. Mas continuarei tentando. Tenho outros projetos e espero que eles possam provocar, da mesma forma que o Pira-Poré, entusiasmo nos meus leitores.


(ilustração de Marina Vargas Tomaz)

Maria Vargas


Criada em Pirapora, às margens do Rio São Francisco, a escritora é formada em Relações Públicas pela PUC-Minas e é mestre em Comunicação Social pela mesma instituição. Desde 2010, mora em Cataguases, onde é proprietária da  Vértice Consultoria, empresa que presta serviços de consultoria em pesquisa de clima organizacional, diagnóstico institucional e avaliação de clima comunicacional interno para empresas privadas, públicas e organizações do terceiro setor, além de promover palestras, cursos e seminários ligados a temas como liderança, gestão de pessoas, redes colaborativas e inovação.

A literatura é um sonho que concretizou por meio da “Coleção Aventuras de Pira-Poré”, composta por quatro volumes, que narra a história do curumim  Pira-Poré – indiozinho da tribo Kariri -  nas matas da região do cerrado mineiro. A inspiração para o personagem e suas aventuras veio de ouvir, desde pequena, as lendas sobre o rio São Francisco e as histórias contadas pelos pescadores. Embora familiarizada com a região, ainda assim a história dos índios, antigos habitantes locais, era um mistério para a autora. Reais ou imaginárias, essas histórias enfeitaram sua vida e a inspiraram para a criação do personagem Pira-Poré.

Maria Vargas gosta muito de contar histórias e idealizou o Projeto "Pira-Poré Conta Histórias", apresentado para crianças e professores de escolas estaduais, municipais e particulares. Em seu projeto de incentivo à leitura, a escritora é convidada pelas escolas para o lançamento de seus livros, quando é organizada a sessão de autógrafos com  contação de histórias para as crianças, além de uma palestra e um mini-curso para professores de 1ª a 5ª séries sobre o cotidiano literário das crianças brasileiras e a utilização do livro infantil em sala de aula.

Contato: 
Facebook: Maria Vargas

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Diálogo onírico disforme: Surrealismo, por David Nascimento e Douglas de Oliveira Tomaz



Surrealismo?

David Nascimento:
Fugir ao irreal, incorporando os desejos inalcançáveis. Despertar de um sonho e poder gerá-lo visualmente, proporcionando a busca por novas fantasias. Adormecer, visitar Sigmund Freud em uma cidade chamada clímax, onde os habitantes só se masturbam. Comer um bolo de gozo feito por gafanhotos azuis no purgatório e prosseguir roendo pequis coloridos, que nunca são gastos para a não-existência de espinhos. Dialogar com o inconsciente.

Douglas de Oliveira Tomaz:
Sim, surrealismo, ou sonho, paredes transpostas, rinocerontes em piscinas, corrida para pular na corrida para pular na corrida para pular. Livro que se abre e dá em árvore, em nuvem, nuvem que dá em diamante colorido, Clube da Esquina, Minas Gerais de alguns meses, hoje, hoje, palavras brotando do hoje regadas pela mente de agora, acumulada pelo ontem e pelos anteontens. Surrealismo mistério diário ao acordar pela manhã. Tentativa vã de domar o inconsciente com palavra. Talvez por isso não consigamos lembrar nossos sonhos, em muitas vezes, porque sua linguagem ultrapassa palavra, ultrapassa a lógica consciente da narração, coesão & coerência.  Ultrapassa, inclusive, a tentativa de lembrança, porque lembrança tá na parte segura, terra firme, o consciente está minado por cercas.

David:
Inserir o surrealismo na minha arte é automático. Busco por símbolos e, de forma atrativa, eles se ajeitam na parede úmida dos meus devaneios, esperando o ato de produção. Acabam se transformando em características e são fixados em durações, caso o tal ato demore acontecer. Dalí teve Gala, gavetas, formigas, relógios de Gorgonzola, elefantes, girafas em chamas e pães gigantescos. Tornaram-se marcas de seus períodos. Eu tenho olhos, seios, pênis, vaginas, o erotismo em um só ciclo, atual e sem previsão de término. Tudo atiçado no inconsciente. Frutos de minhas fugas. Vinculadas às motivações pessoais.

Douglas:
Talvez eu nunca incorpore o surrealismo plenamente em minha literatura. Digo ser impossível, por hora, essa incorporação plena, porque, enquanto escritor zumbi rastejante, ainda me preocupo com uma estética tradicional. Conseguirei produzir surrealismo quando essa preocupação não mais existir, quando for só eu e o papel e minha inconsciência, sem revisões, sem preocupação com a repetição de palavras, com a falta de ritmo, com a “ortografia errada”. Conseguirei produzir surrealismo quando a consciência deixar de existir, domadora implacável e chata. Há um tempo, tento, através da escrita, narrar/descrever sonhos importantes; e, abobado, tenho percebido que meu inconsciente é lógico, ou, se não chega a tanto, possui uma organização caótica que ainda desconheço, mas que existe. Percebo a repetição de símbolos, de significados e sentidos nos meus sonhos, como se se comunicassem, ou morassem num mesmo canto onde a conversa acontece sempre fluida. Nas últimas semanas, tenho levado essa tentativa um pouco mais a sério. Escrevi L. e o canal que se expande  a partir de um sonho. Na verdade, é narrativa toda sonhada. Estou adorando esse movimento de diluir paredes e não me preocupar com o de-sen-ca-de-a-men-to dos fatos. Fatos não precisam se desencadear. Podem nascer de si mesmos, sem qualquer relação com a anterioridade. Coincidentemente, estou lendo dois livros também oníricos: O livro dos sonhos, do Jack Kerouac, em que ele literalmente cospe fora seus sonhos após acordar, do jeitinho que eles vêm à mente, e A céu aberto, do João Gilberto Noll, autor contemporâneo brasileiro, que é um romance sem intervalos, sem divisão por capítulos, um fôlego só, pedrada: um fato, ou sonho, vai levando a outro, que leva a outro, que leva a outro e assim vai, parece que sem fim, embora o livro acabe em algum momento – ou  não. Tento aprender com eles. Quando leio também produzo literatura – no inconsciente.

David:
Como não ser influenciado por um indivíduo que eu admire? A literatura que o Douglas concebe é o que eu estava buscando há algum tempo para poder me inspirar, mas as referências anteriores foram todas distantes. Estou podendo acompanhar, absorver do seu processo criativo, e de perto. É como se alguém sonhasse por mim através da escrita, sugerindo o que fabricar. Então posso regressar, tentar propor de volta. A influência se dá na parte eufórica da minha psique, onde posso pressupor através da leitura de suas obras. Está me ajudando no processo de fortalecimento das temáticas, transcendendo o pensamento ‘’normal’’ e abortando a razão.

Douglas:
Desde que conheci a obra surrealista de David, tenho detonado as paredes da minha literatura com dinamites. Conversando com Edson Lopes, outro dia, ele falou em “literatura positiva”, de positivismo mesmo, e gostei do termo, gostei porque tenho tentado me distanciar cada vez mais dela e a obra do David tem me ajudado neste sentido. Olhos na testa, nos seios, seios no nariz, dedos em todos os lugares, pênis desmembrados, rabiscos, rabiscos soltos e livres, de cinco minutos, como ele diz: não há como não sair transformado desse contato. E essa transformação, claro, reflete-se na escrita, porque a escrita é a consequência desse liquidificador ligado que gira vivendo. David é gênio. Um gênio modesto.

De Douglas para David: você utilizou sangue próprio em algumas de suas obras. Sangue é surrealista?

O sangue, hoje, se estendeu em técnica, mas comecei a utilizá-lo em minhas obras como consequência de um sonho que tive. E só é surrealista, porque eu o converto para. Digo, minha obra o converte, com o que ela carrega.

De David para Douglas: quando começou a escrever, já fazia planos de seguir carreira? Consegue se lembrar do primeiro ato literário?

Importante saber que ainda não tenho carreira, estou buscando caminhos. Mas a certeza temporária de que a literatura é o sentido da minha vida existe e está, por enquanto, bem nítida. Quando comecei a escrever, o sentido de “carreira” ainda não estava formado em minha cabeça, ainda bem – preferiria que ele nunca tivesse se formado. A escrita começou com o teatro na infância, como membro do grupo Metralhas, dirigido pelo Roberto Neves, porque como herança deste período,  recebi o contato com o texto teatral. Lembro que escrevi minha primeira peça aos onze anos, para a escola: era sobre folclore, tinha apenas uma página frente e verso e havia sido escrita à mão. Continuei escrevendo peças de teatro para a escola até os quinze, aproximadamente, quando me descobri criando outros tipos de textos, como contos e crônicas, a partir de motivações particulares, sem qualquer demanda externa. Com dezesseis, escrevi um conto pequeno, chamado Um segundo, o primeiro que me despertou para algum sentido de literatura. Havia um conceito nele, uma estética, um uso racional e subjetivo de palavras, mesmo que raso, algum sentimento impregnado. O despertador tocou ali, mas só um ano depois comecei a escrever compulsivamente, todos os dias. Os textos eram ruins, mas o incômodo-dor-coceira-ânsia-perturbação-susto que motiva o texto é o mesmo desde aquele tempo e enquanto existir, vivo.  Viveremos.
  


- trabalhos do David Nascimento aqui.
- L. e o canal que se expande, de Douglas de Oliveira Tomaz, aqui. 

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Brunna Maia Caires, folha, borrão de pincel, formas e rabiscos

Tudo me faz criar, desde uma folha caindo da árvore, um borrão de pincel, formas variadas, rabiscos no papel, ou até um estudo para desenvolver criação específica a partir de um livro, filme, poesia, música.


A moda esteve presente comigo desde criança, porém em várias fases. E me interessei por ela a partir da arte em geral, desde um desenho/pintura de uma casa, uma roupinha para boneca, até começar a desenvolver os traços de um croqui, e aprofundando na arte da moda.


Ser de Pirapora colaborou com o desenvolvimento da minha criatividade. A rica cultura que a cidade possui, as apresentações de talentos barranqueiros, teatro das feirinhas de sexta, tudo isso despertava a minha curiosidade e vontade de fazer algo que fosse ligado a essa área, de poder expressar, transmitir ,apresentar um pouco do que amo e o que quero ser.  Nos finais de semana em que não possuía muitas opções de entretenimento, passava horas e horas desenhando, fazendo moulage de papel, até que comecei a criar os meus modelos de roupas, e eles começaram a sair da folha, despertando ainda mais a minha vontade de prosseguir , alimentando a minha vontade de crescer, de criar.



Sobre o desfile na Expociapi deste ano, ter sido convidada pelo Adélio Brasil foi algo surreal, pois aquele era um momento dele, e ele não me conhecia, disse apenas que tinha escutado falar a meu respeito, e que ia me “presentear com esse momento”. Vibrei de tanta alegria, mas logo me assustei, porque foi uma responsabilidade muito grande. O fato de eu ainda estar no segundo período da faculdade fez o momento ainda mais complicado, já que ainda estou amadurecendo. Desenvolver o desfile foi trabalhoso e muito mais complexo do que muitos podem imaginar, você não ‘apenas’ cria os modelos e fim, existe todo um processo como o estudo do público alvo, as tendências do momento, o compromisso das modelos, patrocinadores, entre outros. Não tenho palavras para explicar o mundo de emoções que estavam dentro de mim poucas semanas antes de tudo acontecer, apenas tentei tornar o momento perfeito.


Sei que é clichê dizer isso, mas espero que o próximo ano possua tantas conquistas como este – se puder ser melhor, claro que será bem vindo. Aconteceu muita coisa boa em pouco tempo, não tenho do que reclamar. Não fiz planos, as coisas boas acontecem quando menos esperamos, assim foi e está sendo. Eu tenho me empenhado muito na minha área e, mesmo sendo tão nova, está decidido o caminho que quero seguir.



- Brunna Maia Caires, em entrevista ao Salto, 01 de dezembro de 2014.

Acompanhe o trabalho de Brunna pelo facebook: Brunna Maia Caires.


domingo, 30 de novembro de 2014

As fotografias de Aparício Mansur



Minha mãe era poetisa, cresci ouvindo ela declamar seus poemas, ler seus escritos. Aos sete anos já tocava violão; no colégio, era líder em movimentos estudantis e grêmios onde comecei a escrever e editar em pequenos jornais da época. Como músico, participei de dois Festivais da Canção, venci os dois, sendo que em um deles primeiro e segundo lugar. Participava de peças teatrais e vivia sempre envolvido com todos esses eventos. Com o passar dos anos, os caminhos foram mudando, ou melhor, as opções ficaram mais maduras. Passei a me dedicar então às fotografias, aos estudos e à luta pelo Meio Ambiente. Tornei-me professor para estar mais perto das crianças e adolescentes e, junto deles, lutar pelo rio, pelo resgate da nossa história, e na prevenção para um cuidado maior sobre esse nosso bem. 



Conheci o meu velho rio em 1981, e não sei por que, quando o vi, chorei, chorei muito, foi uma sensação muito estranha. A partir deste dia, nunca mais me afastei do rio e da cidade de Pirapora. Deixei toda uma vida já feita em Belo Horizonte e me mudei para cá. Casei aqui e pude e posso estar lutando pelo rio, através do meu site, do meu facebook, divulgando suas notícias, suas mazelas e sua luta pela sobrevivência.



O rio é um ser vivo, ele pulsa. Somente de uma maneira muito pessoal, ali, sentado à sua beira, acariciando suas águas, dá para sentir o quão vivo e importante ele é. Alimenta, refresca, transporta e faz sonhar.



- Aparício Mansur, em entrevista concedida ao Salto, 26 de novembro de 2014.

Aparício Mansur

Aparício Mansur é fotógrafo e se formou em Gestão Ambiental pela UFSC. Sua formação e atuação profissionais estão relacionadas, portanto, à fotografia e ao meio ambiente. Suas fotografias relativas às belezas naturais de Pirapora e região foram publicadas em jornais como O Globo, Estado de Minas, Hoje em Dia, O Tempo, Revista Estados e Municípios e diversos websites. Além disso, teve, por dois anos seguidos, fotografias da Ponte Marechal Hermes selecionadas entre as trinta melhores de Minas Gerais, em duas edições do Concurso Paisagens Mineiras, promovido pelo Jornal Estado de Minas e Diários Associados. Por fim, atua como repórter fotográfico e diretor do site www.velhochico.net.


facebook: Aparício Mansur

"Minha voz é do rio", Priscila Magella



“Aprendi a cantar dentro das águas do Velho Chico, aprendi a doar minha energia de uma forma mais pura, sem esperar nada em troca. Minha voz é do rio.” Priscila Magella é compositora, cantora, atriz e poeta, contabilizando catorze anos de carreira. Nascida piraporense, com os pés, o corpo e a voz muito bem fincados nas águas do Velho Chico, no chão norte-mineiro, Priscila abre espaço no mundo. Abre espaço cantando. Seu último CD, A Barranqueira, trata da vida no rio, amor e sertão, em canções autorais e de outros compositores consagrados, como Magela e Pepeh Paraguassú. Priscila é mais do que uma voz a serviço do rio. Priscila é voz e voz é rio, força que faz as águas nunca pararem. Abaixo, segue a entrevista concedida gentilmente ao Salto. 

Quem te apresentou a possibilidade de ser cantora? 

A vida inteira fui presenteada com essa possibilidade, minha família sempre muito musical, minha Mãe com sua voz maravilhosa, meu Tio com suas lindas canções barranqueiras e meu querido Pepeh Paraguassú com seu violão que sempre abriram caminhos pra me tornar cantadeira do São Francisco. Mas a compreensão do nosso talento musical nunca está plena, entendi o meu caminho através do Rio.

Você vive de música? Quais as dificuldades de se produzir e viver de arte no Brasil? 

Sim, vivo para a Música. E as dificuldades são muitas, a música é uma energia que roda a alma dos poetas e não poetas, é o que nos faz saber que temos um coração, isso dificulta os padrões materiais em que vivemos. Não é fácil, mas é prazeroso.

O que te move, Priscila? 

Não existe apenas um mover, somos parte de uma unificação de movimentos e no meu caso as energias das músicas e das águas sempre me envolvem para o crescimento. O que me leva a produzir arte é, em primeiro lugar, o amor e, depois, a elevação desse sentimento a todos a minha volta. O que me faz cantar é minha alma à parte, esse amor exacerbado que existe em mim. 

Por que você canta?

Porque eu sou o Rouxinol (risos), assim que me chamam.

Quais são suas influências artísticas? 

Sempre busquei muito, mas as condições eram poucas, como até hoje; não tínhamos internet, ou coisas maiores em Pirapora, ou era pago, ou era longe, enfim, era de difícil acesso. Ouvi muito Edith Piaf, Mozart, Billie Holiday, Caetano, Chico, Bethânia, o início do funk, Cazuza, Legião, Luiz Gonzaga, Geraldinho Azevedo, Capitão Magela e minha Mãe, sempre minha Mãe e meu Tio Magela. Li muitas coisas desde os nove anos, livros bem grandes como O mundo de Sofia, e muitos de Zíbia, Shakespeare, Platão, Guimarães Rosa pra caramba, Gabriel Garcia na atualidade, Cecília Meireles, Lília Diniz, Clarice Lispector, também sou poeta, escrevo muitas coisas. Assisti muitos filmes, não em cinema, porque na cidade até hoje não tem; gostava de imitar personagens, sempre fui fissurada por artes, fiz teatro no grupo Metralhas e hoje retomei isso aqui no NET. Ia pro Ateliê Mil Cores ver Tia Mirian e Vó Iracema pintar, adoro o cheiro das tintas, amava ver os desenhos do meu irmão Cristiano e dormir quando ele tocava Ursinho Pimpão na flauta. Arrumava o escritório de Isaías Ramos e Maria Elisa na escola de música Sala Mozart, pra fazer algumas aulas, porque não podia pagar; depois me tornei muito amiga deles e todos os dias ouvia coisas novas, como Beethoven, Chopin, Bach, entre outros. A música erudita me mostrou caminhos jamais vistos, principalmente as cantoras francesas e suas óperas. Hoje ouço muita coisa, porém de cultura popular, boi de maracanã, toco um pouco de maracatu, faço oficinas de ciranda e voz e já conheci alguns mestres dessa nossa cultura que me presenteou em poder cantar suas “loas”. Fiz capoeira no Grupo Bantus e no grupo Capoeirarte e, como não tinha grana pra batizar, trancei todos os cordéis dos meninos pra ganhar o meu primeiro, no Bantus (risos). Então acho que a vontade é maior que as possibilidades.

Como Pirapora recepciona sua carreira? 

Nossa, bem complexo falar de Pirapora. Quando se diz da cidade enquanto pessoas, o meu canto é sempre bem vindo, mas quando se trata de governo, existe um coronelismo bem forte até hoje, não quero entrar nesse aspecto, mesmo porque todos que me conhecem sabem qual é a minha postura. Um dia, Marku Ribas me disse bem assim: “Priscilinha, ame Pirapora geograficamente...”. Não entendi de cara, mas, hoje, entendo e vivo isso na pele. Mas, como disse, sempre recebi o apoio do público, acho que as pessoas ficam felizes em saber que conto, canto e levo um pouco do nosso sertão por onde passo.

Como você compreende a Arte Barranqueira?

É uma força de vontade bem grande de crescimento e amplitude, antigamente se ouvia mais cantos barranqueiros, viam-se carranqueiros, canoeiros, lavadeiras e toda essa arte que tem se perdido na teia do tempo. O barranqueiro defende seu sertão, canta pro Rio, se queima de sol e tudo é arte, até quando não se está fazendo arte.

E a música barranqueira? 

É uma singela oração ao Velho Chico!



Priscila Magella

Aprendi a cantar dentro das águas do Velho Chico, aprendi a doar minha energia de uma forma mais pura, sem esperar nada em troca. Minha voz é do rio.



facebook: Priscila Magella

Poemas do minimal ou 7 poemas subversos

ALCOVA
Essa sua
Lembrança viva
Me lembra saliva.

POLITICAGEM
Eu prometo
Daqui pra frente
Amor perfeito

DESEJO
Nesse mar de tristezas
Toda estrela cadente
Caia doente.

A VIDA É BELA
Entretanto
Tanta sede
Tanto espanto

ESTALO
O sonho mingua
No estúpido beijo
O estupor da língua.

AGUÁRIO
Atenção!
Não alimente
os rancores.

EMERGÊNCIA
Em caso de paixão
Quebre
as regras.


Cata

Fecho 
Abro
Fecho
O punho pulsa
Esmurro a mesa.
Pesa e se afrouxa 
E pesa
Essa incerteza.
Essa porta aberta
Coração contendo o sangue
Feito represa.

Repasso o futuro no lápis
Erros de cálculo
Falhas de vida
Abro a janela e choro
Como quem abriu
Uma ferida.
Ameaço, esbravejo
(A visão do cego são sonhos)
E está tudo torto

Ignoro o álcool
Já bêbado com a vida
Como quem procura
O tesão já morto.




Soturno


Tinha todo o corpo rijo. Teso. Como se o sangue tivesse se tornado mais denso e as horas mais pesadas. Como se os pecados de outrora tivessem adquirido quilos extras em suas costas e as cores bruxuleantes do sol poente formassem línguas de fogo a lhe cuspir insultos.

Era preciso limpar-se.

Retirou as roupas do corpo como aquele que tenta apagar seu nome escrito no jornal de embrulhar peixes. Era preciso estar nu. Ser nu. Desnudar-se. Como se as roupas em contato com o corpo lhe arranhasse a beleza da pele e a leveza da vida só pudesse ser alcançada nua.

Nu, sentou-se no chão empoeirado do quarto a destilar lembranças esquecidas nas gavetas junto às fotografias. Encontrou uma carta amassada escrita por um dos fantasmas do passado. Estará viva? Ou teria se perdido em meio ao calor sufocante das avenidas lotadas? Ele sabia que isso agora pouco importava. Por que mais do que tudo, era preciso limpar-se.

Jogou em um canto a carta e junto a ela uma foto 3x4 de uma tia enviuvada. Sorriu sádico imaginando aquela gaveta como o cárcere onde se definhavam todas as coisas usadas que tinham perdido sua importância. Salvou dos papéis uma receita velha de brigadeiro de coco, que jamais havia feito ou faria. O restante foi para o canto, de castigo junto à carta e a foto.

Levantou-se em ímpeto desenfreado de se molhar. O passado nas gavetas estava sujo e fedia a algo agridoce que lhe embrulhava o estômago. Entrou no chuveiro de olhos fechados na tentativa de rever aquela chuva de um dezembro distante. Não funcionou. Aquela memória havia se desgastado e ele agora lamentava tê-la usado em dias menos penosos.

Saiu do chuveiro sem se enxugar. Deixou um rastro pela casa como o dos caramujos na areia branca da praia. Parou em frente ao espelho olhando os cabelos frisados e saiu de cena com um muxoxo teatral. Dirigiu-se à cozinha e enxugou as mãos no pano que cheirava a frituras.

Voltou para o quarto, e ainda nu, puxou o lençol da cama para o chão e sentou-se. Alcançou habilmente o bloco de notas e a caneta no criado mudo. Rabiscou versos estranhos no papel branco. A caneta falhava. Ele também. Desistiu dos versos por hora e pegou na estante uma garrafa de um destilado qualquer. Dispensando o copo virou um gole. Lembrou-se de uma boa rima para o seu verso. A caneta falhava e o corpo havia molhado o papel. Pensou no modo incongruente e pouco laborioso de como os versos soavam. Gostou. Tomou outro gole. Escreveu mais um verso. Ouviu meio abafado o som do rádio na casa ao lado. Uma música brega e ilegível que aos poucos se transformava em apenas um chiado. Era um ruído frio. Fechou os olhos. E o rádio chiava junto ao vento. Uma das janelas devia estar aberta embora o vento fosse fraco. O corpo molhado, o ruído do rádio, o calor da bebida destilada em seu estômago. Lembrou-se novamente daquela chuva de dezembro e dormiu.

Por fim estava limpo.

Julian Oliveira


Julian Oliveira é poeta. Nascido na cidade ribeirinha de Januária, morou em diversas cidades de Minas, dentre as quais Chapada Gaúcha, sede do Parque Nacional Grande Sertão Veredas, onde encheu seu coração de sertão, e em Buritizeiro, lugar que o religou a suas origens barranqueiras. Participante da antologia Combustível, metal e poema e autor do livro Anos-Luz, hoje estuda Jornalismo na UFMG, dedicando-se à fotografia juntamente à poesia. 

Segundo diz,

“Escrever é ânsia. É como o aperto no peito dos enfartados. Fruto de uma vontade que brota do mesmo motivo misterioso pelo qual o universo se expande. Ter nascido em uma cidade ribeirinha e, posteriormente, morar na barranqueira cidade de Buritizeiro, me fez por diversas vezes pensar nos versos como algo tão fluido quando as águas do Velho Chico. Algo que ora nos escapa entre os dedos. Ou que por vezes nos afoga. Nunca consegui incorporar de maneira muita clara, em meus escritos, elementos relacionados ao ideário mineiro e/ou ribeirinho. Não que a mineiridade ou o sentimento barranqueiro não estivessem presentes em minha vida, apenas creio que esses elementos acabaram por influenciar mais meu estilo de vida dos que os meus versos em si. Tenho versos impregnados de rio e sertão sem nunca tê-los citado de forma direta.”


facebook: Julian Oliveira

Fotografia que é rio - Marina Vargas Tomaz

Busco, através da fotografia, detalhes, coisas, objetos, cores minúsculas, imensas paisagens num espaço despercebido. Busco através do registro fotográfico, alcançar o que meu olho tenta ver, deseja registrar... Afinal, há tantas formas de olhar, tantos jeitos de ver... E são essas tantas visões do mundo, macro e micro, natureza, bicho, pedra, água, que procuro guardar, como numa preciosa coleção, pequenas grandes coisas, tesouros, pequenos presentes de acaso.



Meu processo de criação começa no rio. Posso dizer que em todas as imagens, existe um rio, uma cor rio, um cheiro e uma textura que me remetem ao tempo físico de proximidade e presença. Tudo é influência: a curva, o barulho das águas, o apito do vapor aos domingos, a areia, a correnteza leve e sua cor generosa acolhendo o tempo das chuvas e do sol, agregando ora força, ora dor, como agora.












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Marina Vargas Tomaz formou-se em Belas Artes, pela UFMG, e hoje mora em Uberlândia, onde trabalha como professora de artes para o ensino fundamental, além de cursar o mestrado em Artes Visuais pela UFU. Contribuiu com suas ilustrações para a série de livros infantis, em quatro volumes, As aventuras de Pira-Poré, de Maria Vargas, e para o projeto gráfico do CD A Barranqueira, de Priscila Magela. Segundo ela, “através da arte, podemos enriquecer nossas relações, melhorar nossa comunicação e estreitar nossos laços humanos e poéticos.”

Marina Vargas Tomaz

Marina Vargas Tomaz formou-se em Belas Artes, pela UFMG, e hoje mora em Uberlândia, onde trabalha como professora de artes para o ensino fundamental, além de cursar o mestrado em Artes Visuais pela UFU. Contribuiu com suas ilustrações para a série de livros infantis, em quatro volumes, As aventuras de Pira-Poré, de Maria Vargas, e para o projeto gráfico do CD A Barranqueira, de Priscila Magela. Segundo ela, “através da arte, podemos enriquecer nossas relações, melhorar nossa comunicação e estreitar nossos laços humanos e poéticos.”