domingo, 6 de agosto de 2017

Factory


1.
Meu Deus, e agora?

Factory é um objeto que tem como responsabilidade criar outro objeto.

Eu vou entrar agora na máquina aqui.

Aqui é o ponto fatal.


2.
Você mataria sua mãe por um milhão?

Eu gosto muito da minha mãe, mas eu não vou lá não.

Minha avó vai se casar sábado.

Tia Selma vai lá em casa só pra comer o tomate.

Lá em casa o povo não vive muito não, na verdade vive, mas morre de diabetes.

Vão enterrar ele que horas?

Quando você diz “arruma aí”, eu não sei o que é arrumar, mãe.

Vocês lembram quando a gente não tinha farinha de trigo?

Deus lhe pague, Marilene.

Tchau, vó.

Vai com Deus, mãe.


3.
E todos odeiam Daniela.

Eu já explodi um rato com um rodo.

Meu colega compra um cachorro e bota o nome dele de Latrocínio.

Traumatismo craniano na hora.

E eu não tenho nenhum dom, cara.

Não desespera.

Tem que sofrer pra purificar.


4.
Douglas, favor, comparecer à linha de frente.

Eu assino como eu?

O que me mata é trabalhar sábado.

Descansar agora, como se dona de casa descansasse.

Imagina você ir de limusine pro serviço.

Cê acha que eu vou advogar pra pobre, pra peão?

Mas eles nunca vão juntar uma equipe boa, paga pouco, exige muito e trata garçom que nem cachorro.

Que que tem trabalhar em zona, é um serviço digno.

Eu gostaria de poder ter tudo.


5.
O invisível a gente não consegue ver.

Eu faço arroz porque quero comer.

Se você não descer do ônibus, você vai ficar dentro do ônibus.


6.
Cada doido, cada doido, eu acho que deve ter faculdade de doido.

Quando você acha uma pessoa bonita, você stalkeia ela, fi.

Eu vou é pedir o impeachment dele da minha vida.

Este sol é minha kriptonita.

Aí eu falei, putz grila, a mulher jogou passas no meu creme.

Batata pesa, né?

Vou arranjar uma namorada no final do ano, acho que merece.

Então toma um bicarbonato, toma um banho, faz alguma coisa, uai.

Quem vai fazer a limonada hoje?

Passou quando eu tava pagando a passagem.


7.
É muito chão, né?

Quem tem limite é fronteira.

Ai, que bom que você me entendeu.



***



Douglas de Oliveira Tomaz, 24 anos, é autor do blog pessoal www.abrigosdevagabundo.blogspot.com.br, foi premiado pelo concurso literário do Clube de Escritores de Ipatinga – MG (Clesi) e possui textos seus publicados pelas revistas Jangada e Conhecimento Prático - Literatura. Publica regularmente crônicas n’O Salto e mora em Belo Horizonte, onde escreve seu primeiro livro de contos.



Ilustração: Vinícius Ribeiro. Começou a desenhar desde a mais tenra idade e nunca mais parou. Atualmente, estuda Artes Visuais na Universidade Estadual de Montes Claros. Colabora periodicamente como ilustrador para O Salto, além de ser autor do blog pessoal Pensamento Ilustrado (http://pensamentoilustrado.tumblr.com/)